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quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Metade - Oswaldo Montenegro

Que a força do medo que tenho
 Não me impeça de ver o que anseio
 Que a morte de tudo em que acredito
 Não me tape os ouvidos e a boca
 Porque metade de mim é o que eu grito
 A outra metade é silêncio
Que a música que ouço ao longe
 Seja linda ainda que tristeza
 Que a mulher que amo seja pra sempre amada
 Mesmo que distante
 Pois metade de mim é partida
 A outra metade é saudade
Que as palavras que falo
 Não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor
 Apenas respeitadas como a única coisa
 Que resta a um homem inundado de sentimentos
 Pois metade de mim é o que ouço
 A outra metade é o que calo
Que a minha vontade de ir embora
 Se transforme na calma e na paz que mereço
 Que a tensão que me corrói por dentro
 Seja um dia recompensada
 Porque metade de mim é o que penso
 A outra metade um vulcão
Que o medo da solidão se afaste
 E o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
 Que o espelho reflita meu rosto num doce sorriso
 Que me lembro ter dado na infância
 Pois metade de mim é a lembrança do que fui
 A outra metade não sei
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
 Pra me fazer aquietar o espírito
 E que o seu silêncio me fale cada vez mais
 Pois metade de mim é abrigo
 A outra metade é cansaço
Que a arte me aponte uma resposta
 Mesmo que ela mesma não saiba
 E que ninguém a tente complicar
 Pois é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
 Pois metade de mim é plateia
 A outra metade é canção
 Que a minha loucura seja perdoada
 Pois metade de mim é amor
 E a outra metade também


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